sábado, 2 de julho de 2011

Parodiando

Eu não vi a alegria
Não sei se a alegria existe
A alegria não me importa e nem me diz nada.

A alegria consola
De um consolo mórbido
E insosso.

Não quero a apatia
Dos torpes momentos do riso.
Prefiro o fecundo tédio
Dos que conheceram
A poesia.  

Da tristeza

Às vezes você tem que ficar triste
para se lembrar de que está vivo.
É melhor do que não sentir nada."
(Filme O Paraíso É Logo Ali)
"[...]Ficar triste é comum, 
é um sentimento tão legítimo quanto a alegria, 
é um registro de nossa sensibilidade, 
que ora gargalha em grupo, 
ora busca o silêncio e a solidão."
Martha Medeiros


Memória

Certos acontecimentos deveriam ser proibidos 
de passar dos limites da inconsciência

Sapo caruru, na beira do rio...


"Quando pequena, 
o coachar dos sapos me apavorava,
então escondia a cabeça embaixo dos lençóis
como se eles fossem me proteger
de qualquer indesejada audição.
Hoje, sinto saudades daquele barulho
outrora tão assustador e não o ouço mais.
Seria nesse momento
uma doce canção de ninar."

Saque

"Não sou como a abelha saqueadora 
que vai sugar o mel de uma flor, 
e depois de outra flor. 
Sou como o besouro que enclausura
no seio de uma única rosa 
e vive nela até que se fechem
as pétalas sobre ele; 
e abafado neste aperto supremo, 
morre entre os braços da flor que elegeu."
Roger Martin du Gard
Nem abelha, nem besouro...
Sou apenas a que rouba de ti sua solidão 
para fazer companhia à minha.

Olhos nos olhos...

Seu corpo sobre o meu, meu rosto sob o seu. Balbucio:
_ Às vezes tenho a impressão de que quer me roubar de mim.
Fecho os olhos lentamente. 
_ Abra os olhos!  - você sussurra.
_ Não, porque a vida me sai por eles. - respondo mantendo-os cerrados.
_ Não posso lhe roubar nada que não lhe pertença.
Olhos abertos de susto. Mudez.

Paradoxos.


Onde quis calmaria, fui tormenta.
Onde quis cumplicidade, evasão.
Onde quis retorno, fui a fuga.
Onde quis soldado, marginal.
Onde quis oração, fui a descrença.
Onde quis proteção, abandono.
Onde quis fartura, fui limitação.
Onde quis palavras, silêncio.
Onde quis memórias, fui esquecimento.
Onde quis diversão, casa limpa.
Onde quis o sol, fui a noite.
Onde quis prosa, poesia.
Onde quis abraço, fui desalento.
Onde quis novidade, museu.
Onde quis movimento, fui estátua.
Onde quis riso, melancolia.
Onde quis a cura, fui sangramento.
Onde quis o circo, velório.
Onde quis nascer, fui enterro.
Onde quis espaço, prisão.
Onde quis metáfora, fui paradoxo.
Onde quis caminhada, corsário.
Hoje já nada quer.
Hoje já nada sou.

Abraço...

"O abraço é o excesso de palavras."
  Carpinejar
 E existe no mundo 
um excesso mais propício.